quinta-feira, 2 de julho de 2009

Au Revoir. . . . . . Paris

Bem, para não deixar nenhuma página em branco, aqui fica o meu último post neste blog.

Voltei de Paris na segunda-feira passada. Não tem sido fácil. Estas experiências de intercâmbio e de viver fora do nosso país por uns tempos, trocam-nos sempre as voltas. A intensidade com que se vive o gesto mais simples do quotidiano é tão grande, que qualquer alteração de rotina, como foi, obviamente, a minha volta para casa, choca com o nosso sistema nervoso e fragiliza-nos bastante.

Eu, que nem era grande fan dos Erasmus e do ambiente dos estudantes estrangeiros nas faculdades, redimo-me absolutamente de todo o preconceito criado.
Foi, sem dúvida alguma, a melhor experiência da minha curta vida, que apesar disso, já vai sabendo saborear o que há por aí.

Agora é voltar para casa. Não só de corpo, mas também de alma.
Deixar o nº 90 da rue Saint Martin para trás, deixar de fazer do Sena o meu Tejo, deixar o Marais numa boa lembrança, e olhar para a minha terra com os mesmos olhos de antes, embora o olhar seja agora mais brilhante. Paris tem destas coisas...Lisboa deve aproveitá-las!

Vou sentir muitas saudades. Muita coisa me vai faltar.
Sair do meu prédio, atravessar a rampa em frente ao Pompidou, e chegar ao meu café preferido, Lapey Ronie. Apanhar o metro em Rambuteau ou em Châtelet. Passear pelo Sena, fosse pelas pontes, fosse pelas margens, estender as toalhas e pic-nicar com os amigos. Andar desde a minha casa, e dar-me conta que cheguei à Torre Eiffel. Apanhar o barco, dar meia volta, e vir parar ao quartier latin, do lado oposto do bairro judeu. Beber chá na mesquita, passear no jardin des plantes...andar....andar...andar, e entrar no jardin du luxembourg. Como eu adorei fazer este itinerário. Por vezes por mim, outras vezes por outros, mas garanto-vos que cada vez teve um sabor realmente diferente.

Sim, já sei...Paris tem muito de artificial. Por vezes dá a sensação que estamos num cenário dum filme...há ruas sem vida, há espaços pouco cheios. é verdade! Mas Paris tem também um lado incrivelmente sedutor, que por muito que tentemos resistir, acaba com as nossas forças, e faz-nos apaixonar. Se por um lado a monumentalidade da cidade nos impressiona e esmaga, e a arrogância dos parisienses (estereótipo confirmado) nos afasta, por outro a vida que dela emana, a arte que se mistura com os hábitos e as pessoas que fascinam pela diversidade, tudo isto faz-no querer mais Paris.

Foram 9 meses. O tempo duma gravidez, o tempo de criar ligações fortes, aos espaços e a quem os ocupa. Talvez não se viva duma forma realmente real. Talvez estes momentos da nossa vida sejam escapes que vamos arranjando, para fugir um bocado à nossa realidade, talvez...mas um amigo, antes de eu partir, dizia-me uma coisa simples mas que a mim me tocou muitissimo, partilho convosco: para mim, esta vida que tive em Paris é que é real, pois é assim que eu quero viver.
Pois então assim seja...Algo que trago comigo do Erasmus? Fazer da minha vida aquilo que eu quero que ela realmente seja! Uma ideia tão simples, mas que tantas vezes esqueci!

Obrigada pelas visitas, pelos comentários simpáticos, afectuosos e desafiantes também!

Até breve

terça-feira, 2 de junho de 2009

Afinal a Torre Eiffel até tem alguma piada ;)

Nesta foto tenho o prazer de vos apresentar os meus camaradas desta grande aventura que é o Eramus! Malta de Paris X, Nanterre. Com toda a certeza, uma malta bm especial!













Fizemos uma festa surpresa no Champs de Mars a um amigo espanhol, o Miguel. O verdadeiro simbolo do que é o estudante Erasmus, muita borga, muita simpatia, muita bebida....o miguel é aquele que conhece toda a gente, e que sabe de todas as festas que se passam em Paris. Se há pessoa que merecia uma festa, num dia se Sol absolutamente fantástico, com a Torre Eiffel como cenário, mais as 50 pessoas que apareceram...essa pessoa é o Miguel! Ei-lo, vesido com o seu melhor traje!
















Neste dia, o Champs de Mars parecia a praia de Copacabana!!! Nuna vi tanta gente junta, talvez na Expo....Mas a Tor Eifel merecia uma foto an?!




















E como não podia deixar de ser, até porque estamos em Paris, a politica está sempre presente, manifestação pelos Tigres Tamil:


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Bonjour Soleil


Finalmente, ao fim de dias, semanas de clausura, libertaram o sol de Paris. Tardou, mas chegou. Acabaram-se as tristezas, as depressões, o não saber o que fazer. Chegou o Sol às ruas de Paris, já entrou em nossa casa, abriu as nossas janelas, iluminou-nos o rosto e fez-nos mais felizes. Acorda-se mais cedo, seca-se a roupa mais rápido, desliga-se o computador mais cedo...E descemos as escadas a caminho da luz ;)e encontramos vestidos, saias curtas, t-shirts e muitos decotes.
Começaram os passeios pelo Sena, os piqueniques no Parque Butte Chaumont, os estudos no Luxemburgo ou um bolinho no Centro Cultural Sueco. Começaram os copos na Pont des Arts, no Canal St. Martin, e na Île da Pont Neuf.
Começa a nostalgia duma cidade que me deu muito mais do que eu a ela. As saudades começam a fazer-se sentir e as despedidas começam a acontecer. Há uma vontade de viver ainda com mais intensidade a cidade, e tão perto da partida, num tentativa de iludir o curso inexorável do tempo, começamos a enfeitar a casa e a criar novas rotinas. Chega a ser ridiculo, mas faz-nos sentido. Ai...Paris va me manquer beaucoup, e eu que nem gostava desta cidade!

sábado, 16 de maio de 2009

Rock Universitário



Clip realizado por estudantes da Universidade de Marne-la-Vallée.

http://petitions.alter.eu.org/refonder

sábado, 9 de maio de 2009

France en Colére


Após um primeiro de Maio inédito, no qual as 8 centrais sindicais francesas desfilaram, pela primeira vez, de braço dado, vive-se em França um clima de combate, de reivindicação, de luta até à vitória final. Nos mais variados sectores encontramos descontentamento e revolta, acompanhados de uma radicalização do movimento social.

Na saúde, contra a lei Bachelot, ministra do governo Sarkozy, o movimento das batas brancas, médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde, insurge-se e apela à solidariedade de todos e todas com a sua luta pelo serviço público de saúde, e contra os hospitais-empresa, tendo-se manifestado cerca de 15 mil profissionais, 3ª feira passada, nas ruas de Paris.

Perante as ameaças e a concretização de despedimentos em várias empresas em França, trabalhadores e trabalhadoras unem-se e reinventam as formas de luta. Vários sequestros de patrões já se sucederam em França, com apoio das populações.

Chegada a 14ª semana de greve das Universidades em França, estudantes, professores, investigadores e os chamados BIATOSS (bibliotecários, engenheiros, administrativos, técnicos, operários e pessoal dos serviços e saúde, na versão francesa) permanecem em mais de 60 universidades francesas em greve. A Coordenação Nacional das Universidades (CNU), órgão criado especificamente para coordenar e organizar o movimento da greve, onde a grande maioria das universidades francesas se encontra representada por professores, estudantes e doutorandos, reuniu pela nona vez a semana passada, e volta a votar a continuação da greve, alertando para a absoluta irresponsabilidade do ministério do ensino superior, que insiste em ignorar olimpicamente, as inúmeras manifestações de toda a comunidade universitária em França. A verdade é que as acções se multiplicam: bloqueios das faculdades, impedindo por completo através de piquetes de greve o acesso às salas de aulas; as chamadas barragens filtrantes, que apenas dificultam o acesso empilhando, por exemplo, cadeiras e mesas em frente de salas de aulas; assembleias-gerais unitárias que acontecem semanalmente, com votação de moções, posteriormente enviadas para a CNU; manifestações semanais com uma afluência que ronda, em Paris, as 20 mil pessoas...Enfim, criatividade e imaginação não faltam ao movimento, ainda assim, a única resposta que nos surge do lado da direita francesa é tão-somente, por um lado uma proposta de lei dum deputado do UMP (partido de Sarkozy) Damien Meslot, na qual propõe sancionar em 1000 euros todos os estudantes e pessoas externas as universidade, que tentem impedir o acesso aos edifícios de um qualquer campus universitário, e por outro uma declaração na Assembleia Nacional, desta vez vinda da ministra do Ensino Superior, Valérie Pécresse, no sentido de haver deduções salariais a todos aqueles que retenham as notas dos estudantes, que se recusem a realizar exames ou que impeçam as aulas de compensação. A responsabilidade pela paralisação das universidades e pela possibilidade de cerca de 100.000 estudantes não verem o seu ano validado, é duma ministra que, com jeitos tatcherianos, fecha sistematicamente as portas da negociação.

A crise social em França está à vista de todos e de todas. Não se trata duma crise de valores, de falta de identidade, ou de outro qualquer epíteto de natureza mais filosófica. Trata-se sim da saturação mais profunda das populações, face ao absoluto desprezo dos governantes europeus, e do seu em particular. Por aqui luta-se pelo direito ao ensino público, pelo direito ao serviço de saúde público, pelo direito ao emprego. Por aqui assiste-se a um basta à política de caça aos serviços públicos.